terça-feira, 31 de agosto de 2010

Irmão

Meu querido amigo
Me permita uma errata
A sua antepenúltima publicação

Errata errada
pois não vem corrigir nada
apenas acrescentar as pobres palavras
daquela interlocução

Visto que amizade,
se traduzida em poucas palavras
é muita humildade
se comparada às coisas fantásticas
que acontecem em mente e coração

Tal como obra inacabada todo dia se ergue novo alicerce nesta relação
E que não haja pedra
nem polida nem lascada
para ser atirada com a força orgulhosa da mão
Diante de tanta rima e tanta prosa ainda assim não se extrai a essência dessa relação.

Amigo, é muito mais que isso

É malungo, é matafacka, é apelido, é compreensão, é cúmplice e parceiro.
E se entendo o gesto e o olhar não vá se surpreender
caso eu saiba exatamente o que se passa dentro de você

É pai sem cobrança,
é mãe sem cordão,
é irmão na esperança em olhar pra vida, rezando para que o furacão das responsabilidades não nos engula,
não nos deixe ranzinzas.

Dois autos!!!

É não ter laço de sangue,
Mas de alma
que quando se encontra,
se alegra, se acalma,
se farta e se entala,
olhando para o outro,
se olhando num espelho retorcido
Quem sou eu? eu ou amigo?

E porque haveria eu
de temer essa interessante fusão?
Se das diferenças surgem possibilidades
de acrescentar na tua essência,
a experiência de outro irmão.

Irmão?
Sim, sim... é irmão!

(Autor: Rodrigo, meu irmão matafacka)

blog

Esse negócio já tá virando vício
Me expulsa do ócio e me interna no hospício

Até meu tio já sobrou nessa história

www.oseuolharnomeu.blogspot.com

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amigo!

Felipe diz:
aonde fica a emoçao diante de tanta ponderação
Rodrigo - diz:
sempre quis saber esse segredo seu
Rodrigo - diz:
aonde estão meu caro, as exclamações?
já percebi que sou exclamativo, passional não passivo, direto não esquivo
e as vezes me consumo nisso
to aprendendo a me controlar mais
mas é uma tarefa diária e incansável de brigar consigo mesmo
Felipe diz:
sim...
eu sou o outro lado dessa moeda
prazer!
Rodrigo - diz:
pois é
ando aprendendo é com vc mesmo
Felipe diz:
e eu com voce!

domingo, 29 de agosto de 2010

Ruído

Nove cinco nove cinco zeeerooooooo
Nove cinco nove cinco zeeerooooooo
É hora de acreditaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrr
É hora de acreditaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrr
E votaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrr
Tô aqui na loja de meu pai
Eu vou cantar pra tu,
Inaugurada há poucas semanas no costa azul
Guéu biuriful
Domingo de manhã
Ela gosta é da pisadinha
E mesmo sem querer
Ela gosta de fazer besteirinha
Sou obrigado a ouvir músicas e jingles eleitorais variados
Pra deputado federaaaaaaaaaaaal
Se ao menos fossem clientes,
Escutaria contente
Pra deputado estaduaaaaaaaaaaaaaal
Cantaria alegremente
Ela sai de saia, de bicicletinha
Os refrões que emanam dos carros
Leia literalmente: porta-malas
Bombando irritantemente meus tímpanos
Soando como despertador
de manhã cedo a me aperrinhar
Como quem diz
Se liga, ô vagabundo
É hora de acreditaaarrrr
É hora de acreditaaar
Tira a cama dessa bunda,
Acorda e vai trabalhar!
E eis que no momento em que escrevo
Aparece um cliente
Ouvindo discretamente
Ciclete com banana
Tipo música ambiente
E ao fundo ainda escuto
Irritantemente
É hora de votar!

Bom...
Eu tinha pensado em terminar o texto na frase acima
Mas felizmente
Apareceu um novo cliente
Entoando baixinho e automaticamente
Nove cinco nove cinco zero
Que osmoticamente
Também bombou com incalculável irritância em decibéis
Os tímpanos do nosso comprador
E futuro eleitor
Engraçado, a priori
Aquilo pra mim soou
meio que sarcasticamente
como consolo
Afinal não era só eu que estava sendo irritantemente adestrado
Mas depois fiquei a me indagar
Até que ponto o resultado nas urnas
são fruto de decisão política bem pensada
ou mero ruído de musiquinha animada.

P.S.: Modifiquei o número do jingle para não parecer que estou fazendo propaganda eleitoral.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cansado

Desse monte de gente de merda que se acha rei!
Desse monte de gente bosta que acha que tem nas costas a capa de super-sei!

Quer saber?
Cansei!

Até tentei aprender
Até tentei prender
Eu juro que me esforcei

Mas acho que me melei

Andei e caguei!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Inequação

Resolva a (in)equação abaixo:

A / B = (C + D + E) / F


A = Nº de barracas demolidas na orla de Salvador

B= Nº de dias de demolição

C= Anos de trabalho suado desperdiçados

D = Gotas de suor pingadas debaixo de sol quente pra sustentar a família

E = Nº de comerciantes desempregados

F = Por quanto tempo, seu prefeito?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cúmplice

Desejo
Com toda intensidade
Com a mais pura verdade

Com todos os meus medos
Desejo
Todos os teus medos

Com toda a intensidade
Com a mais pura verdade
Desejo

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Incompreensão

Tu que não me compreendes! Vamos romper relação!

Tudo bem, tanto faz. Pra mim também já deu!
Passei a vida inteira te compreendendo!
Você que nunca me compreendeu!

Tomaram fôlego. E após tanta incompreensão
Tomaram decisão certeira
Suicida ilusão da banheira

Seguiram direções opostas.
Rompendo assim pelas costas
Cordão umbilical da razão

E aquele que certo estiver
Que atire a primeira pedra.
Lascada. Paleolítica.
Com a força orgulhosa da mão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A bem da verdade..

Nada como um bom diálogo
Mesmo que quase um monólogo.

Que seja...
Mas que seja de verdades nuas
Ainda que não tão cruas.

Confesso que...
Quase sempre
Passo um tempo a ensaiar
Tal como carne a maturar
E só com palavras escolhidas
me sujeito a monologar

É que o discurso internamente carregado
costuma sair ponderado
diria até tacitamente lapidado
Perdendo as exclamações.

É que a verdade por si já verbaliza
Todos os pontos e virgulas e interrogações

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

engarrafado

Trânsito.
São 18 horas.
Neste interminável ora
Ora vai ora vem
movimentar de mãos
Marcho a 20 por hora
Em primeira e segunda.

Inunda.
Cai o mundo la fora.
E as gotas no céu de vidro embora
percutam seu som vibrante
Em polirrítmo constante
Num intervalo intederminado

Vibro em estado distante
Meio assim, dissonante.
Transito no meu horizonte
E tal como na minha fronte
Me sinto assim
Engarrafado.

domingo, 15 de agosto de 2010

extrato

Debitos...
Dívidas...
Contas a pagar...

Somo minhas dores
Subtraio dos amores
Resulto calcular:

Qua lá no fim das contas
O lápis desaponta
Ao peito a me furar

Aplico meu dinheiro
Invisto no meu zelo
Desejo de “rendar”

Talvez no fim das contas
Bom crédito desconta
Esse banco há de pagar!

É assim que me endivido
Tal qual credor falido
Sempre a cobrar

Da vida inexata
Que essa conta sensata
Não deve calotar!

picadura

Minha alma é assim
Escorpiana a se curar.
Tem um quê geminiano
Um duplo equilibrar.

Segue contra-corrente
Caudalosa e pungente
Brinca belicosamene
Faz questão de penetrar.

Armadura carapaça
Superficie tão sem graça
Trivial banalizar.

Tão guerreira e bravamente
Curva-se como serpente
Espreita-se meio tendente
Como bote a preparar.

Picadura consciente
O veneno doce e quente
Vem minhalma a instilar.

E em verdade corroente
Queimando em aguardente
Aguarda novamente
O próximo picar.

Picadura inconsciente
De veneno doce e quente
Reage a despicar.

Rastejando lentamente
Abriga-se indiferente
Soldado incandescente
No seu quartel militar.

Armadura carapaça
Superficie tão “espassa”
Duro penetrar.

Fecha o elo da corrente.
E segue assim continuamente
Essa vida a encadear.

Minha alma é assim
Tão antidotamente
Escorpiana a se curar.