quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Aplicação (1/2)

Uma sardinha bem pequenininha
Tirou as fichas do colchão
Foi pedir um bom conselho
Ao fazer aplicação.

E num diálogo financeiro
Conversaram o dia inteiro
De valores, decisões,
tempo e dinheiro

A sardinha agradeceu
ao sábio velho conselheiro

que lhe tinha iluminado
sobre um jogo arriscado
sobre a possibilidade
de render o aplicado.

Ao final da boa prosa
a sardinha curiosa
e o bom e velho conselheiro:

- Seria tudo só um jogo?
- Um jogo de azar e sorte?
- Há alguma ferramenta
bússola que aponte ao norte?

- Jogo é para aqueles
que acreditam em azar e sorte!

- Mas é tudo uma questão
de expansão e retração.

- De entradas e saídas
subidas e descidas.

- Decidas!

- Escolha uma opção!
- Invista numa ação!

-Pois que tudo na vida é questão de decisão
-Vais fazer investimento ou especulação?

O conselheiro, Senhor Fibonacci, concluiu o seu sermão
A sardinha agradecida apertou-lhe sua mão:

-Às tuas palavras agradeço,
aprecio tua projeção.
- Tuas palavras valem ouro,
tua sequência, tua razão.
- Farei delas meu instrumento,
nesse meu profundo intento
de render aplicação.

Seguiu adiante a sardinha
lembrando daquele sermão
Contando algumas mil fichinhas
que guardara no colchão.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Atração repulsão (parte 5/5)

- A culpa é do mercúrio!
Vapor de mercúrio! Aquele estressado!
Sempre me expulsa de casa quando tá esquentado!

Vai desculpando, seu elétron!
Venho aqui em sua casa,
neste lindo átomo de fósforo
Mas não quero te abusar!

Foi-se embora a dona luz,
E no caminho pôs-se a pensar.
Questionou o princípio de tudo
Até enfim se acalmar.

A culpa era de quem?
Não era minha, nem sua, nem de ninguém!
Talvez seja do cátodo, talvez seja do ânodo,
Ou talvez de um camarada, um tal de Tesla, sei lá.

Mas certamente que a culpa era
de um gesto tão simples, quanto belo.
Que esconde em si um encanto singelo.

Era o que sempre acontecia
Toda vez que a superfície do dedo macia
Tocava, sem pretensão
no interruptor, o botão.
E no piscar de um momentum
a luz se acendia.

sábado, 25 de setembro de 2010

Choro de repente

Vô contá essa istória
Pros cabra ficá contente
Apesá que esse conto
É um tanto deprimente
Sobre o cumpáde Seu Sabino
Um pedreiro respeitado
Que esfaleceu de repente

Esfaleceu de repente
Seu Sabino foi se embora
E Seu Gonçalo que era primo
Num tinha um tustão na hora
Percorreu mais de três dias
Todas as secretaria
Até achar a que queria

Morava no interiô
Era pobre de baixa renda
Mas era trabaiadô
vivia dentro de uma tenda
Era muito boa gente
Sustentava a famía
De seis fío e uma fía

Assim era Seu Sabino
que esfaleceu de repente.
E seu Gonçalo que era primo
quis fazer enterro descente.
Mas num tinha um tostão
E foi em busca de um irmão
Que lhe fosse condescendente.

Ao fim da peregrinação
Depois de tanto chorá
Conseguiu uma doação
Ganhou Auxílio-Funerá
Da Secretaria do Trabaio
Direitos do Cidadão
e Assistência Sociá


E conseguiu enterrá o irmão
Que na verdade era primo
Era tanta ligação
brincavam desde menino
futebol, roda-pião
arraia, bola de gude
bate prego e fura pino.

E foi um tá de chororô,
a famía comovida,
me acode meu sinhô
cumé que vai ficá minha vida
No enterro de Seu Sabino
que amava sua famía
de seis fío e uma fía.

Eu fico agora a imaginar
como vosmicê se sente
depois de eu lhe contá
essa istória comovente.
Se no inicio eu lhe falei
vo contá essa história
pros cabra ficá contente.

Pros cabra ficá contente
Foi do Auxilio-Funerá.
Num foi da história comovente.
Que dá vontade de chorá
Que Deus o tenha seu Sabino
E que ajude os seus minino
A crescê e se criá

Se pra quem morre de repente.
tem auxilio-funerá
Pa pudê rimá contente,
seu dotô, eu vô chorá
Venho lhe solicitá
o tal do bolsa-repente
pra gente repenteá.




Conto baseado numa história real.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Atração repulsão (parte 4/5)

- Seu elétron, perdoe a minha agonia!
- É que as vezes me sinto assim agoniada,
E somente o senhor me enxerga, e apenas com isso já me sinto aliviada!
[respondeu a dona luz ultravioleta]

- E a culpa dessa agonia?
- Quem a senhora culparia? [perguntou o elétron]...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Atração Repulsão (parte 3/5)

O curioso elétron
não tinha a intenção de incomodar.
Era apenas a única forma que ele conhecia de poder transformar
toda aquela intensa energia
toda vez que a dona luz ultravioleta nele incidia.

O curioso elétron se fez pensativo,
depois de tanta fluorescência,
resolveu conversar com a dona luz ultravioleta para ver o que ela diria.

-E então dona luz ultravioleta, de onde a senhora viria?
-E por que vem a mim com esse quanta de energia?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Girassol

O Sol ouviu a voz sutil
da linda flor a se enflorar:

- Sol!
- Gira, Sol!
- Gira preu te ver raiar!
- Pára bem na minha mira
mira em mim o teu brilhar!

O Sol sorriu e emitiu
desejo luz de iluminar

- Girassol!
- Olha bem no meu olhar!
- Queria também parar o tempo
- Só pra te admirar!
- Miro a ti o dia todo!
- Mesmo à noite, no luar!

Sempre muito sábio,
o Tempo assistiu naquele instante
o tão singelo dialogar:

O Sol brilhando ao Girassol.
A lua a intermediar.

Naquela noite, durante alguns minutos
O Tempo pôs-se a pensar

Ora, veja!
O tão cauteloso senhor Tempo
ousou abandonar o seu maior ensinamento,
aquele discurso profético de que tudo há de chegar
no seu melhor momento,
para poder acelerar!

É que no encanto daquele instante
Havia algo no ar, uma energia contagiante!
O Tempo ficou tão admirado,
Quão desejoso e apressado
Pra ver de novo o Sol nascer
e o Girassol desabrochar.

Correu o Tempo a adiantar!

E o Sol se fez nascer na noite
Brilhando ainda em madrugar
O Tempo então parou ali
Como cupido a espiar

Se pôs a contemplar o Sol
A bela flor a enamorar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

atração repulsão: o retorno (parte 2/5)

O elétron, outrora excitado, voltou cabisbaixo com a resposta ouvida.
Desceu então fluorescente ao único orbital vazio remanescente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lar

Lar
lar é uma coisa engraçada
as vezes
pode ser casa
mas às vezes nao
na verdade lar é muito mais
lar é aquele cantinho do tempo
aquele cantinho do espaço
em que vc se basta
em que vc se encontra
mas, que tamanho tem um lar?
pergunta difícil
pode estar em qualquer lugar
mas algo
eu lhe digo
muitas vezes
eu encontro o lar
no brilho dos olhos dos meus amigos
e quando eu penso neles
penso na luz
e digo comigo mesmo
de olhos fechados
de pensamento vidrado
sentindo a tua presença
e susurro pra mim mesmo:
lar doce lar

Autor: Andre Luiz

(Deveria ser André Luz. És um clarão de luz meu amigo!)

Gribado

Buda gue bariu!
beu dariz da gompletamente indubido!

ping, ping...

ping, ping...

...

Nada que um cloridrato de nafazolina
pingado em duas gotas em cada narina
não resolva!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

atração repulsão (parte 1/5)

Um elétron, sempre muito curioso sobre os orbitais alheios,
entrou excitado no orbital vizinho,
querendo saber a todo custo a resposta
a uma pergunta que sempre quis fazer.
Aproximou-se do outro elétron e enfim perguntou:
- Que te causas tamanha repulsão?
Eis a seca e óbvia resposta ouvida:
- Excesso de aproximação.

domingo, 12 de setembro de 2010

Cidade prevista

Deitei-me confortavel. Abri, silenciosa e aleatoriamente, a rosa.

“Cidade Prevista”

“Guardei-me para a epopéia
que jamais escreverei.
Poetas de Minas Gerais
e bardos do Alto Araguaia,
vagos cantores tupis,
recolhei meu pobre acervo,
alongai meu sentimento.
O que eu escrevi não conta.
O que desejei é tudo.
Retomai minhas palavras,
meus bens, minha inquietação,
fazei o canto ardoroso,
cheio de antigo mistério
mas límpido e resplandecente.
Cantai esse verso puro,
que se ouvirá no amazonas,
na choça do sertanejo
e no subúrbio carioca,
no mato, na vila X,
no colégio, na oficina,
território de homens livres
que será nosso país
e será pátria de todos.
Irmãos, cantai esse mundo
que não verei, mas virá
um dia, dentro em mil anos,
talvez mais...não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras,
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro,
um jeito só de viver,
mas nesse jeito a variedade,
a multiplicidade toda
que há dentro de cada um.
Uma cidade sem portas,
de casas sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Este país não é meu
Nem vosso ainda, poetas.
Mas ele será um dia
o país de todo homem.”

Ó nobre mestre, farmacêutico e poeta!
Sinto o teu mundo [tão vivo]. Ainda não chegou!
Mas esse mundo, sentimento no mundo, ainda há de chegar!
Se te serves de consolo,
Sempre haverá vagos cantores tupis!
Cantaremos este refrão que da boca insiste em sair
Vem de lá do peito, sai em voz rouca, desafinada
“E o amor aonde está?” ( http://www.oseuolharnomeu.blogspot.com/ )
Com apenas duas mãos,
uma voz e um violão
eu hei de procurar!

Completa-me

Era uma vez...

Anos depois da saudosa senta pua e nos tempos da coletiva poesia...

Hoje me veio em lembrança (saudoso tempo da caligrafia de criança, farda, caderno e lápis na mão)
uma antiga (tentativa de) composição
que nunca soube brotar no papel por falta de imaginação

Nasceu nua. Em estado sublime de frase, abortara seu ar de oração.

“Por trás disso tudo, há sempre outro mundo, que não vamos ver senão subirmos no muro”

Acho que quer falar das delícias de termos coragem, de arriscar.
Ou daquele friozinho que sentimos em risco, medo, sei lá!

Gostaria de lançar aqui, neste fértil terreno
abertamente em forma de tema

Como gérmen de letra de música ou poema.
Composição a ser plantada e regada em parceria.

Qual corajoso ou medroso, que seja, daria
Ao menos um elemento de tanta valia?

Água, ar, terra ou luz do dia!

Venho a ti em apelo para me germinar

Quem, corajoso ou medroso, que seja, teria
Suficiente interesse em fazer desabrochar?

Sim, venho a ti em apelo para me completar

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Constipação

Vou começar roubando descaradamente algumas palavras de rodrigueta:

“...Temos tantas idéias plantadas, tantas necessidades alheias... o que é realmente seu?
O jeito de vestir? O que gosta de comer? O hábito de ler? de beber?..... vai saber... quem sabe tudo isso não foi plantado em algum momento da sua infância, ou adolescência...”

Pois é...
Até tentaram plantar um hábito em minha adolescência.
Hábito de leitura!
E eu detestava ler!
Hoje em dia até que tento ler um pouquinho mais, sobretudo textos da área acadêmica.
Leios alguns romances ou ficções que me agradam de vez em quando.
Tento me esforçar em ler alguns pensadores, mas minha área de humanas é preguiçosamente péssima. Até compro uns livros de bolso para ler de passatempo mas nunca passo muito tempo com eles.
Era muito chato ter que ficar lendo aqueles livros de colégio.
Que sofrimento ter que interpretar aqueles textos de Drummond de Andrade
Ou qualquer outro autor que não me dizia bulhufas.
Um moleque que entrava na sala com o uniforme encharcado,
fedido, encardido depois do intervalo.
Eu queria era jogar bola!
Estudava mesmo porque....nem sei o porquê...mas fazia minhas obrigações.
E passava na terceira unidade.
Ah lembrei! Eu estudava porque meus pais diziam que eu tinha que estudar pra eu ser alguém na vida.
Mas isso não vem ao caso agora...
Acho que interpretar poesia...é inútil!
Na minha opinião, um autor, um livro, um texto, uma poesia não deve ser interpretada...
Ela deve te tocar! O autor sim, interpreta o mundo à sua maneira.
Acredito que Drummond escrevia e tocava na mente e no coração daquela gente contemporânea a ele.
O cara é um mito, e sua obra é clássica, jamais morrerá e continuará tocando corações por todo o sempre nas mais diversas circunstâncias!
Mas certamente ela tocaria mais fortemente os corações de quem viveu na época da Segunda Guerra Mundial do que de um fedelho, que fazia um esforço extra-absurdamente sobrenatural, praticamente furando a página do livro, com olhar quase que de raio laser, tentando, em vão, extrair a mensagem escondida nas entrelinhas.
Meu universo não era aquele. Simples assim!
E eu não sabia e nem tinha interesse de entrar no universo dele!
Só sei que depois de tantos anos, depois de tantas tentativas frustradas no colégio
Fui fazer algo tão trivial quanto sentar no vaso e fazer o número 2.
Tenho o costume, herdado de um tio, de levar sempre algum livro, ou algo pra ler no banheiro. Quando não tem nada, eu leio rótulo de shampoo. Quem quiser saber o que é metil, etil e propil parabeno pode me perguntar.
Mas sim...voltando...tomei a coragem de pegar um livro de Drummond chamado A rosa do povo.
Abri numa página aleatória e, como se ele quisesse me ensinar uma lição, me fiz de aluno: sentei na privada e li. O título da poesia era “Procura da poesia”. Dizia mais ou menos assim:


“Não faças poesia com o corpo
[...] tão infenso à efusão lírica
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia
[...] A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto
Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir
Não recomponhas tua sepultada e merencória infância
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação
Que se dissipou não era poesia
Que se partiu cristal não era
Penetra surdamente no reino das palavras
Lá estão os poemas que esperam ser escritos
Estão paralisados, mas não há desespero,
Há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma se te provocam
Espera que cada um se realize e consume
Com seu poder de palavra
E seu poder de silêncio
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não adules o poema. Aceita-o
Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço
[...]

Não sei bem o porquê, mas o texto entrou na minha cabeça e parecia que estava se reverberando, ressonando dentro de mim.

Depois dessa leitura, acho que entendi a essência da lição.
Terminei a sessão, embora mais leve e renovado, tendo diagnosticado minha poética constipação.

Confissão

Eu aprendi a rezar o Pai Nosso ainda criança
Aprendi também que eu deveria rezá-lo todos os dias
Principalmente ao acordar e ao dormir.
Eu até rezo, quando me lembro,
mas no meio da reza me sinto às vezes desconfortável.
É que acho um tanto mecânico, repetir palavras
Que não parecem sair de mim.
Normalmente quando deito na cama
Fico pensando na vida, nos acontecimentos e
Acabo por elevar o pensamento assim:
Deus obrigado por mais um dia
Obrigado pela minha família
Por minha mãe, meu pai, minhas irmãs,
Meus amigos
E todas as pessoas
Que me dão sempre tanto carinho
Pela minha saúde, pelo alimento,
E também pelos bens materiais
E que a cada dia eu possa transmitir às pessoas
Todo esse amor que recebo.
Agradeço pela oportunidade de estar aqui, nessa jornada
Aprendendo com cada um ao meu redor
Peço sempre proteção e serenidade para o dia seguinte
E normalmente termino por aqui.
Sim eu sei que é uma oração meio egoísta,
Porque não falo dos pobres, dos doentes, dos presos, dos necessitados.
Das guerras, dos mutilados, dos desnutridos, dos sem-teto...
E admito que só consigo orar com fervor
Pensando nas pessoas com as quais realmente me importo.
Enquanto isso, recebo bençãos diárias dos pacientes
que atendo uma vez por mês...
Por um simples sorriso ou até menos que isso
Eles dizem com olhar sincero:
Que Deus te abençoe e lhe dê saúde!
Diferente de uma quantia de dinheiro ao avarento,
ou de um prato de comida ao guloso,
que diminui, à medida em que é dividida
Esta energia, esta vibração, por assim dizer
Não diminui, pelo contrário, se multiplica
E faz bem quando compartilhada com alguém.
Me ensina a aprender a ser menos egoísta no meu dia-a-dia.
Amém.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

respingo

Estilhaços? Nada é pra tanto! Aqui neste pranto não há manto de dor
Nem de raiva, nem tristeza nem tampouco de amor

Se chovo, pingos, inertes respigos
Bolhas de sabão na mão a estourar

Onde há tempestade tentando virar qualquer barco a vela
Nau, caravela, navio em alto mar

É tempestade enfim
Em copo de agua fria
Sabão, maresia,
areia do mar

criança suada correndo na praia
descalça a brincar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

meias verdades

Custoso expressar enfim
Qualquer nó de sentimento que há em mim
Aqueles que existem
Amarrados persistem
Costurando borbulhos numa bolha sem fim
Entre tantas amarras
Ali está ela, a tal da razão
Que sempre me fala de ponderação
É dona da mão que faz a sutura
Antes mesmo que a bulha
Descosture explosão.