sábado, 27 de novembro de 2010

Guerra Civil

Guerra civil.
Estado de alerta como nunca se viu.
Quarenta graus Célsius no estado do Rio.
Bandido, polícia, calibre fuzil.
Troca de tiros, alguém se feriu.
Queimando no asfalto jaz um corpo frio.
Fecha-se o cerco, gargalo funil.
Operação tiroteio.

Sai do meio Brasil!

Que teu tão formoso céu risonho e límpido
resplandece na Cruzeiro a tiros mil!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fim

Vendo o Tempo a Terra em rotação
e a flor do girassol por um momento
achando que o Sol pudesse estar em movimento
de vazão

ouviu a voz sutil
da bela flor ao entardecer.

E se um dia o Sol morrer e tudo desaparecer?

O bom Tempo reluziu
mais um sábio pensamento.

E se o sol morrer
A lua desaparecer
A lâmpada queimar
E a vela se apagar

Sempre haverá aquele brilho no olhar.

Que brilhará eternamente
e muito mais intensamente

do que o brilho do sol nascente
matiz de sol poente,
lua cheia, vela
ou lâmpada fluorescente.

domingo, 14 de novembro de 2010

A vela

Vai a vela e leva
o barco a bela
ao som
da boca sopra
assobia
ao som do beijo
volta vela volta.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

LAR

Diante das circunstâncias, republico esse texto.


Lar
lar é uma coisa engraçada
as vezes
pode ser casa
mas às vezes nao
na verdade lar é muito mais
lar é aquele cantinho do tempo
aquele cantinho do espaço
em que vc se basta
em que vc se encontra
mas, que tamanho tem um lar?
pergunta difícil
pode estar em qualquer lugar
mas algo
eu lhe digo
muitas vezes
eu encontro o lar
no brilho dos olhos dos meus amigos
e quando eu penso neles
penso na luz
e digo comigo mesmo
de olhos fechados
de pensamento vidrado
sentindo a tua presença
e susurro pra mim mesmo:
lar doce lar

Autor: Andre Luiz

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Entardecer

O Girassol flor amarela
com tanto Sol pôs-se a murchar
tanto tempo que o Tempo parou no tempo a contemplar.
Exposição tão prolongada fez queimadura, despetalar.

O sábio Tempo novamente como sempre pôs-se a pensar.
Pensou nas pétalas queimadas, algum remédio a cicatrizar.
Lembrou de um velho ensinamento
Tão velho que o próprio tempo
quase esquecera de lembrar

O Tempo, velho curandeiro,
sempre fez e faz curar.
Foi cumprir a sua sina, o futuro desvendar.
Tic tac tic tac fez a volta do ponteiro do relógio a voltear.

O Sol se pondo ao fim do dia
Alaranjou o firmamento
E pintou seu sentimento
Em matiz de cores frias.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sinfonia

Prrrrrrriiiii prrrrrrriii apitava o guardinha. Semáforo quebrado.
Vrrrrrooomm vrrrrrooomm roncavam motores. Apressados rumo ao trabalho.
Tccchhh Tcchhh freavam os ônibus. Trabalhadores enlatados.
Beeeeeennn beeeeeennn buzinava o carro. Faltava-lhe espaço.
Uuuiiiiiiiii uuuiiiiiiiii ambulância chegando. Motociclista no asfalto.
Brrrrrrrrrrr brrrrrrrrrrrrr britadeira na obra. Ali não brotam bromélias.

Quiiii-quiuíiiiii! Quiiii-quiuíiiiii!
Insistia o bem-te-vi...

Solava para a cidade surda
sob regência de uma árvore muda.

Virtuosos compassos
retorcidos galhos
ao sabor do vento a balançar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Alvorada

Fim de semana eu vou poder sambar
Eu vou direto pra quadra iaiá
fazer a minha celebração

Porque o samba está inteiro dentro de mim
É minha maior louvação
Minha razão de viver
e de ser

Não adianta fazer feitiço, discriminar
O velho samba resiste
persiste e insiste em me ensinar

como sobreviver
como domar a dor
como pagar pra ver
ser da vida um ator

A ter esperança
como o raiar alvorada
iluminando dias

Porque o samba está inteiro dentro de mim
É minha maior louvação
Minha razão de viver
e de ser



Carlos Miranda / Felipe Miranda
Março/2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cinza

O céu era cinza.
As nuvens eram cinzas.
No ar, cinzas.
As pedras, cinzas.
Monumentos cinzas.
Dos automóveis cinzas.
A rua cinza.
A cidade cinza.
O chão cinza.
De branco, a esperança nos olhos.
De preto, o menino deitado em seu travesseiro.
Um saco de lixo.
Conforto sem luxo
na cabeceira de um bueiro.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

endocardite?

Meu coração dói
Mas não é dor que corroe.
Em nada se parece isquemia.
É dor latente.
Não dói por pulsar.
Pulsa a dor por respirar.
No ictus da dor nada auscutaria.
Será sintoma de endocardite?
Prenúncio de falência seria?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cartão vermelho

Vamos caçar a incoerência no discurso!
Vamos criminalizar todo discurso incoerente!

Vamos expor
Rasgar
Queimar
Escarnecer

Todo discurso incoerente!
Discurso todo incoerente!

Eu voto na incoerência. O incoerente me soa bem.
Cartão verde outrora, cartão vermelho agora!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pangéia

“Navegar é preciso,
viver é impreciso”
Precisas palavras do Pessoa.
Prefiro parafrasear um bom amigo.
Arriscaria dizer:
Remar pra quê?

Se dizem por aí que foi à toa
sem querer
que descobriram a américa.
Não se separam continentes por umas gotas de água e sal.
Não se definem dois irmãos pelo sangue de um mesmo pai
ou pelo sangue de uma mesma mãe.

A grandeza do mar
é tão maior que o oceano
e nem chega perto
perto do que
juntos somos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Eleições

“O que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei.”

Me arrisco a falar de um assunto sobre o qual sou um completo analfabeto: Democracia.

Dizem que democracia vem do grego, “demos” (povo) + “kratos” (autoridade); Governo do povo, pelo povo e para o povo, na célebre definição de Abraham Lincoln.

Democracia é alternância de poder! Talvez o povo brasileiro até concorde com isso em certo grau e gênero, mas não necessariamente em número. Pelo menos é o que vimos nas últimas pesquisas e no resultado do primeiro turno para as eleições presidenciais em 2010.

Em nossa democracia participativa, temos a “liberdade” de escolher nossos representantes a cada 2 anos. Escolhemos presidente, senadores, deputados, vereadores, prefeitos e governadores: ou melhor, às vezes pensamos que escolhemos. Afinal, por que meu candidato a deputado teve mais votos do que o seu, e o seu ganhou e o meu perdeu?

Elegemos deputados e vereadores pelo voto proporcional. A divisão aritmética das cadeiras em disputa entre os partidos políticos, com a finalidade de assegurar um debate democrático e a representação das minorias, tem se tornado, cada vez mais, um instrumento de corrupção, a partir da fabricação em laboratórios, ou melhor, diretórios (partidários) de candidatos bizarros puxadores de votos, que levam consigo além da alegria e palhaçada, mensaleiros e sua cambada! Os palhaços e analfabetos que elegemos, assim como os corruptos, são o nosso espelho!

Aos três anos de idade, graças à constituição de 88, ganhei a ”liberdade” de poder votar aos dezesseis, direito que exerci analfabeticamente. E continuo a exercer até hoje. É que vivo num cenário de grande pluralidade partidária, são tantos candidatos, legendas e propostas. Não sei qual a melhor. Pra falar a verdade nunca li um projeto de governo. Pra falar a verdade, não sei nem ler. E dizem por aí que analfabeto é o Tiririca, o deputado federal, do “Pior não fica”, mais bem (ou mal) votado nestas eleições. Churchill que o diga, democracia é “o pior de todos os regimes, à exceção de todos os outros já testados.”

Gostaria mesmo que a democracia fosse alternância de servir, mas, considerando a definição etimológica de democracia; considerando que vivemos num país com uma taxa de analfabetismo de cerca de 10%, somando 14,1 milhões de analfabetos; considerando o analfabetismo funcional, onde 1 em cada 5 pessoas são incapazes de ler e compreender um simples texto; considerando ainda os analfabetos políticos, o pior de todos, como bem lembra Bertold Brecht, eu diria:

Democrasia, é a iginoransia no poder.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Aplicação (1/2)

Uma sardinha bem pequenininha
Tirou as fichas do colchão
Foi pedir um bom conselho
Ao fazer aplicação.

E num diálogo financeiro
Conversaram o dia inteiro
De valores, decisões,
tempo e dinheiro

A sardinha agradeceu
ao sábio velho conselheiro

que lhe tinha iluminado
sobre um jogo arriscado
sobre a possibilidade
de render o aplicado.

Ao final da boa prosa
a sardinha curiosa
e o bom e velho conselheiro:

- Seria tudo só um jogo?
- Um jogo de azar e sorte?
- Há alguma ferramenta
bússola que aponte ao norte?

- Jogo é para aqueles
que acreditam em azar e sorte!

- Mas é tudo uma questão
de expansão e retração.

- De entradas e saídas
subidas e descidas.

- Decidas!

- Escolha uma opção!
- Invista numa ação!

-Pois que tudo na vida é questão de decisão
-Vais fazer investimento ou especulação?

O conselheiro, Senhor Fibonacci, concluiu o seu sermão
A sardinha agradecida apertou-lhe sua mão:

-Às tuas palavras agradeço,
aprecio tua projeção.
- Tuas palavras valem ouro,
tua sequência, tua razão.
- Farei delas meu instrumento,
nesse meu profundo intento
de render aplicação.

Seguiu adiante a sardinha
lembrando daquele sermão
Contando algumas mil fichinhas
que guardara no colchão.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Atração repulsão (parte 5/5)

- A culpa é do mercúrio!
Vapor de mercúrio! Aquele estressado!
Sempre me expulsa de casa quando tá esquentado!

Vai desculpando, seu elétron!
Venho aqui em sua casa,
neste lindo átomo de fósforo
Mas não quero te abusar!

Foi-se embora a dona luz,
E no caminho pôs-se a pensar.
Questionou o princípio de tudo
Até enfim se acalmar.

A culpa era de quem?
Não era minha, nem sua, nem de ninguém!
Talvez seja do cátodo, talvez seja do ânodo,
Ou talvez de um camarada, um tal de Tesla, sei lá.

Mas certamente que a culpa era
de um gesto tão simples, quanto belo.
Que esconde em si um encanto singelo.

Era o que sempre acontecia
Toda vez que a superfície do dedo macia
Tocava, sem pretensão
no interruptor, o botão.
E no piscar de um momentum
a luz se acendia.

sábado, 25 de setembro de 2010

Choro de repente

Vô contá essa istória
Pros cabra ficá contente
Apesá que esse conto
É um tanto deprimente
Sobre o cumpáde Seu Sabino
Um pedreiro respeitado
Que esfaleceu de repente

Esfaleceu de repente
Seu Sabino foi se embora
E Seu Gonçalo que era primo
Num tinha um tustão na hora
Percorreu mais de três dias
Todas as secretaria
Até achar a que queria

Morava no interiô
Era pobre de baixa renda
Mas era trabaiadô
vivia dentro de uma tenda
Era muito boa gente
Sustentava a famía
De seis fío e uma fía

Assim era Seu Sabino
que esfaleceu de repente.
E seu Gonçalo que era primo
quis fazer enterro descente.
Mas num tinha um tostão
E foi em busca de um irmão
Que lhe fosse condescendente.

Ao fim da peregrinação
Depois de tanto chorá
Conseguiu uma doação
Ganhou Auxílio-Funerá
Da Secretaria do Trabaio
Direitos do Cidadão
e Assistência Sociá


E conseguiu enterrá o irmão
Que na verdade era primo
Era tanta ligação
brincavam desde menino
futebol, roda-pião
arraia, bola de gude
bate prego e fura pino.

E foi um tá de chororô,
a famía comovida,
me acode meu sinhô
cumé que vai ficá minha vida
No enterro de Seu Sabino
que amava sua famía
de seis fío e uma fía.

Eu fico agora a imaginar
como vosmicê se sente
depois de eu lhe contá
essa istória comovente.
Se no inicio eu lhe falei
vo contá essa história
pros cabra ficá contente.

Pros cabra ficá contente
Foi do Auxilio-Funerá.
Num foi da história comovente.
Que dá vontade de chorá
Que Deus o tenha seu Sabino
E que ajude os seus minino
A crescê e se criá

Se pra quem morre de repente.
tem auxilio-funerá
Pa pudê rimá contente,
seu dotô, eu vô chorá
Venho lhe solicitá
o tal do bolsa-repente
pra gente repenteá.




Conto baseado numa história real.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Atração repulsão (parte 4/5)

- Seu elétron, perdoe a minha agonia!
- É que as vezes me sinto assim agoniada,
E somente o senhor me enxerga, e apenas com isso já me sinto aliviada!
[respondeu a dona luz ultravioleta]

- E a culpa dessa agonia?
- Quem a senhora culparia? [perguntou o elétron]...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Atração Repulsão (parte 3/5)

O curioso elétron
não tinha a intenção de incomodar.
Era apenas a única forma que ele conhecia de poder transformar
toda aquela intensa energia
toda vez que a dona luz ultravioleta nele incidia.

O curioso elétron se fez pensativo,
depois de tanta fluorescência,
resolveu conversar com a dona luz ultravioleta para ver o que ela diria.

-E então dona luz ultravioleta, de onde a senhora viria?
-E por que vem a mim com esse quanta de energia?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Girassol

O Sol ouviu a voz sutil
da linda flor a se enflorar:

- Sol!
- Gira, Sol!
- Gira preu te ver raiar!
- Pára bem na minha mira
mira em mim o teu brilhar!

O Sol sorriu e emitiu
desejo luz de iluminar

- Girassol!
- Olha bem no meu olhar!
- Queria também parar o tempo
- Só pra te admirar!
- Miro a ti o dia todo!
- Mesmo à noite, no luar!

Sempre muito sábio,
o Tempo assistiu naquele instante
o tão singelo dialogar:

O Sol brilhando ao Girassol.
A lua a intermediar.

Naquela noite, durante alguns minutos
O Tempo pôs-se a pensar

Ora, veja!
O tão cauteloso senhor Tempo
ousou abandonar o seu maior ensinamento,
aquele discurso profético de que tudo há de chegar
no seu melhor momento,
para poder acelerar!

É que no encanto daquele instante
Havia algo no ar, uma energia contagiante!
O Tempo ficou tão admirado,
Quão desejoso e apressado
Pra ver de novo o Sol nascer
e o Girassol desabrochar.

Correu o Tempo a adiantar!

E o Sol se fez nascer na noite
Brilhando ainda em madrugar
O Tempo então parou ali
Como cupido a espiar

Se pôs a contemplar o Sol
A bela flor a enamorar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

atração repulsão: o retorno (parte 2/5)

O elétron, outrora excitado, voltou cabisbaixo com a resposta ouvida.
Desceu então fluorescente ao único orbital vazio remanescente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lar

Lar
lar é uma coisa engraçada
as vezes
pode ser casa
mas às vezes nao
na verdade lar é muito mais
lar é aquele cantinho do tempo
aquele cantinho do espaço
em que vc se basta
em que vc se encontra
mas, que tamanho tem um lar?
pergunta difícil
pode estar em qualquer lugar
mas algo
eu lhe digo
muitas vezes
eu encontro o lar
no brilho dos olhos dos meus amigos
e quando eu penso neles
penso na luz
e digo comigo mesmo
de olhos fechados
de pensamento vidrado
sentindo a tua presença
e susurro pra mim mesmo:
lar doce lar

Autor: Andre Luiz

(Deveria ser André Luz. És um clarão de luz meu amigo!)

Gribado

Buda gue bariu!
beu dariz da gompletamente indubido!

ping, ping...

ping, ping...

...

Nada que um cloridrato de nafazolina
pingado em duas gotas em cada narina
não resolva!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

atração repulsão (parte 1/5)

Um elétron, sempre muito curioso sobre os orbitais alheios,
entrou excitado no orbital vizinho,
querendo saber a todo custo a resposta
a uma pergunta que sempre quis fazer.
Aproximou-se do outro elétron e enfim perguntou:
- Que te causas tamanha repulsão?
Eis a seca e óbvia resposta ouvida:
- Excesso de aproximação.

domingo, 12 de setembro de 2010

Cidade prevista

Deitei-me confortavel. Abri, silenciosa e aleatoriamente, a rosa.

“Cidade Prevista”

“Guardei-me para a epopéia
que jamais escreverei.
Poetas de Minas Gerais
e bardos do Alto Araguaia,
vagos cantores tupis,
recolhei meu pobre acervo,
alongai meu sentimento.
O que eu escrevi não conta.
O que desejei é tudo.
Retomai minhas palavras,
meus bens, minha inquietação,
fazei o canto ardoroso,
cheio de antigo mistério
mas límpido e resplandecente.
Cantai esse verso puro,
que se ouvirá no amazonas,
na choça do sertanejo
e no subúrbio carioca,
no mato, na vila X,
no colégio, na oficina,
território de homens livres
que será nosso país
e será pátria de todos.
Irmãos, cantai esse mundo
que não verei, mas virá
um dia, dentro em mil anos,
talvez mais...não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras,
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro,
um jeito só de viver,
mas nesse jeito a variedade,
a multiplicidade toda
que há dentro de cada um.
Uma cidade sem portas,
de casas sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Este país não é meu
Nem vosso ainda, poetas.
Mas ele será um dia
o país de todo homem.”

Ó nobre mestre, farmacêutico e poeta!
Sinto o teu mundo [tão vivo]. Ainda não chegou!
Mas esse mundo, sentimento no mundo, ainda há de chegar!
Se te serves de consolo,
Sempre haverá vagos cantores tupis!
Cantaremos este refrão que da boca insiste em sair
Vem de lá do peito, sai em voz rouca, desafinada
“E o amor aonde está?” ( http://www.oseuolharnomeu.blogspot.com/ )
Com apenas duas mãos,
uma voz e um violão
eu hei de procurar!

Completa-me

Era uma vez...

Anos depois da saudosa senta pua e nos tempos da coletiva poesia...

Hoje me veio em lembrança (saudoso tempo da caligrafia de criança, farda, caderno e lápis na mão)
uma antiga (tentativa de) composição
que nunca soube brotar no papel por falta de imaginação

Nasceu nua. Em estado sublime de frase, abortara seu ar de oração.

“Por trás disso tudo, há sempre outro mundo, que não vamos ver senão subirmos no muro”

Acho que quer falar das delícias de termos coragem, de arriscar.
Ou daquele friozinho que sentimos em risco, medo, sei lá!

Gostaria de lançar aqui, neste fértil terreno
abertamente em forma de tema

Como gérmen de letra de música ou poema.
Composição a ser plantada e regada em parceria.

Qual corajoso ou medroso, que seja, daria
Ao menos um elemento de tanta valia?

Água, ar, terra ou luz do dia!

Venho a ti em apelo para me germinar

Quem, corajoso ou medroso, que seja, teria
Suficiente interesse em fazer desabrochar?

Sim, venho a ti em apelo para me completar

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Constipação

Vou começar roubando descaradamente algumas palavras de rodrigueta:

“...Temos tantas idéias plantadas, tantas necessidades alheias... o que é realmente seu?
O jeito de vestir? O que gosta de comer? O hábito de ler? de beber?..... vai saber... quem sabe tudo isso não foi plantado em algum momento da sua infância, ou adolescência...”

Pois é...
Até tentaram plantar um hábito em minha adolescência.
Hábito de leitura!
E eu detestava ler!
Hoje em dia até que tento ler um pouquinho mais, sobretudo textos da área acadêmica.
Leios alguns romances ou ficções que me agradam de vez em quando.
Tento me esforçar em ler alguns pensadores, mas minha área de humanas é preguiçosamente péssima. Até compro uns livros de bolso para ler de passatempo mas nunca passo muito tempo com eles.
Era muito chato ter que ficar lendo aqueles livros de colégio.
Que sofrimento ter que interpretar aqueles textos de Drummond de Andrade
Ou qualquer outro autor que não me dizia bulhufas.
Um moleque que entrava na sala com o uniforme encharcado,
fedido, encardido depois do intervalo.
Eu queria era jogar bola!
Estudava mesmo porque....nem sei o porquê...mas fazia minhas obrigações.
E passava na terceira unidade.
Ah lembrei! Eu estudava porque meus pais diziam que eu tinha que estudar pra eu ser alguém na vida.
Mas isso não vem ao caso agora...
Acho que interpretar poesia...é inútil!
Na minha opinião, um autor, um livro, um texto, uma poesia não deve ser interpretada...
Ela deve te tocar! O autor sim, interpreta o mundo à sua maneira.
Acredito que Drummond escrevia e tocava na mente e no coração daquela gente contemporânea a ele.
O cara é um mito, e sua obra é clássica, jamais morrerá e continuará tocando corações por todo o sempre nas mais diversas circunstâncias!
Mas certamente ela tocaria mais fortemente os corações de quem viveu na época da Segunda Guerra Mundial do que de um fedelho, que fazia um esforço extra-absurdamente sobrenatural, praticamente furando a página do livro, com olhar quase que de raio laser, tentando, em vão, extrair a mensagem escondida nas entrelinhas.
Meu universo não era aquele. Simples assim!
E eu não sabia e nem tinha interesse de entrar no universo dele!
Só sei que depois de tantos anos, depois de tantas tentativas frustradas no colégio
Fui fazer algo tão trivial quanto sentar no vaso e fazer o número 2.
Tenho o costume, herdado de um tio, de levar sempre algum livro, ou algo pra ler no banheiro. Quando não tem nada, eu leio rótulo de shampoo. Quem quiser saber o que é metil, etil e propil parabeno pode me perguntar.
Mas sim...voltando...tomei a coragem de pegar um livro de Drummond chamado A rosa do povo.
Abri numa página aleatória e, como se ele quisesse me ensinar uma lição, me fiz de aluno: sentei na privada e li. O título da poesia era “Procura da poesia”. Dizia mais ou menos assim:


“Não faças poesia com o corpo
[...] tão infenso à efusão lírica
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia
[...] A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto
Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir
Não recomponhas tua sepultada e merencória infância
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação
Que se dissipou não era poesia
Que se partiu cristal não era
Penetra surdamente no reino das palavras
Lá estão os poemas que esperam ser escritos
Estão paralisados, mas não há desespero,
Há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma se te provocam
Espera que cada um se realize e consume
Com seu poder de palavra
E seu poder de silêncio
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não adules o poema. Aceita-o
Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço
[...]

Não sei bem o porquê, mas o texto entrou na minha cabeça e parecia que estava se reverberando, ressonando dentro de mim.

Depois dessa leitura, acho que entendi a essência da lição.
Terminei a sessão, embora mais leve e renovado, tendo diagnosticado minha poética constipação.

Confissão

Eu aprendi a rezar o Pai Nosso ainda criança
Aprendi também que eu deveria rezá-lo todos os dias
Principalmente ao acordar e ao dormir.
Eu até rezo, quando me lembro,
mas no meio da reza me sinto às vezes desconfortável.
É que acho um tanto mecânico, repetir palavras
Que não parecem sair de mim.
Normalmente quando deito na cama
Fico pensando na vida, nos acontecimentos e
Acabo por elevar o pensamento assim:
Deus obrigado por mais um dia
Obrigado pela minha família
Por minha mãe, meu pai, minhas irmãs,
Meus amigos
E todas as pessoas
Que me dão sempre tanto carinho
Pela minha saúde, pelo alimento,
E também pelos bens materiais
E que a cada dia eu possa transmitir às pessoas
Todo esse amor que recebo.
Agradeço pela oportunidade de estar aqui, nessa jornada
Aprendendo com cada um ao meu redor
Peço sempre proteção e serenidade para o dia seguinte
E normalmente termino por aqui.
Sim eu sei que é uma oração meio egoísta,
Porque não falo dos pobres, dos doentes, dos presos, dos necessitados.
Das guerras, dos mutilados, dos desnutridos, dos sem-teto...
E admito que só consigo orar com fervor
Pensando nas pessoas com as quais realmente me importo.
Enquanto isso, recebo bençãos diárias dos pacientes
que atendo uma vez por mês...
Por um simples sorriso ou até menos que isso
Eles dizem com olhar sincero:
Que Deus te abençoe e lhe dê saúde!
Diferente de uma quantia de dinheiro ao avarento,
ou de um prato de comida ao guloso,
que diminui, à medida em que é dividida
Esta energia, esta vibração, por assim dizer
Não diminui, pelo contrário, se multiplica
E faz bem quando compartilhada com alguém.
Me ensina a aprender a ser menos egoísta no meu dia-a-dia.
Amém.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

respingo

Estilhaços? Nada é pra tanto! Aqui neste pranto não há manto de dor
Nem de raiva, nem tristeza nem tampouco de amor

Se chovo, pingos, inertes respigos
Bolhas de sabão na mão a estourar

Onde há tempestade tentando virar qualquer barco a vela
Nau, caravela, navio em alto mar

É tempestade enfim
Em copo de agua fria
Sabão, maresia,
areia do mar

criança suada correndo na praia
descalça a brincar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

meias verdades

Custoso expressar enfim
Qualquer nó de sentimento que há em mim
Aqueles que existem
Amarrados persistem
Costurando borbulhos numa bolha sem fim
Entre tantas amarras
Ali está ela, a tal da razão
Que sempre me fala de ponderação
É dona da mão que faz a sutura
Antes mesmo que a bulha
Descosture explosão.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Irmão

Meu querido amigo
Me permita uma errata
A sua antepenúltima publicação

Errata errada
pois não vem corrigir nada
apenas acrescentar as pobres palavras
daquela interlocução

Visto que amizade,
se traduzida em poucas palavras
é muita humildade
se comparada às coisas fantásticas
que acontecem em mente e coração

Tal como obra inacabada todo dia se ergue novo alicerce nesta relação
E que não haja pedra
nem polida nem lascada
para ser atirada com a força orgulhosa da mão
Diante de tanta rima e tanta prosa ainda assim não se extrai a essência dessa relação.

Amigo, é muito mais que isso

É malungo, é matafacka, é apelido, é compreensão, é cúmplice e parceiro.
E se entendo o gesto e o olhar não vá se surpreender
caso eu saiba exatamente o que se passa dentro de você

É pai sem cobrança,
é mãe sem cordão,
é irmão na esperança em olhar pra vida, rezando para que o furacão das responsabilidades não nos engula,
não nos deixe ranzinzas.

Dois autos!!!

É não ter laço de sangue,
Mas de alma
que quando se encontra,
se alegra, se acalma,
se farta e se entala,
olhando para o outro,
se olhando num espelho retorcido
Quem sou eu? eu ou amigo?

E porque haveria eu
de temer essa interessante fusão?
Se das diferenças surgem possibilidades
de acrescentar na tua essência,
a experiência de outro irmão.

Irmão?
Sim, sim... é irmão!

(Autor: Rodrigo, meu irmão matafacka)

blog

Esse negócio já tá virando vício
Me expulsa do ócio e me interna no hospício

Até meu tio já sobrou nessa história

www.oseuolharnomeu.blogspot.com

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amigo!

Felipe diz:
aonde fica a emoçao diante de tanta ponderação
Rodrigo - diz:
sempre quis saber esse segredo seu
Rodrigo - diz:
aonde estão meu caro, as exclamações?
já percebi que sou exclamativo, passional não passivo, direto não esquivo
e as vezes me consumo nisso
to aprendendo a me controlar mais
mas é uma tarefa diária e incansável de brigar consigo mesmo
Felipe diz:
sim...
eu sou o outro lado dessa moeda
prazer!
Rodrigo - diz:
pois é
ando aprendendo é com vc mesmo
Felipe diz:
e eu com voce!

domingo, 29 de agosto de 2010

Ruído

Nove cinco nove cinco zeeerooooooo
Nove cinco nove cinco zeeerooooooo
É hora de acreditaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrr
É hora de acreditaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrr
E votaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarrrr
Tô aqui na loja de meu pai
Eu vou cantar pra tu,
Inaugurada há poucas semanas no costa azul
Guéu biuriful
Domingo de manhã
Ela gosta é da pisadinha
E mesmo sem querer
Ela gosta de fazer besteirinha
Sou obrigado a ouvir músicas e jingles eleitorais variados
Pra deputado federaaaaaaaaaaaal
Se ao menos fossem clientes,
Escutaria contente
Pra deputado estaduaaaaaaaaaaaaaal
Cantaria alegremente
Ela sai de saia, de bicicletinha
Os refrões que emanam dos carros
Leia literalmente: porta-malas
Bombando irritantemente meus tímpanos
Soando como despertador
de manhã cedo a me aperrinhar
Como quem diz
Se liga, ô vagabundo
É hora de acreditaaarrrr
É hora de acreditaaar
Tira a cama dessa bunda,
Acorda e vai trabalhar!
E eis que no momento em que escrevo
Aparece um cliente
Ouvindo discretamente
Ciclete com banana
Tipo música ambiente
E ao fundo ainda escuto
Irritantemente
É hora de votar!

Bom...
Eu tinha pensado em terminar o texto na frase acima
Mas felizmente
Apareceu um novo cliente
Entoando baixinho e automaticamente
Nove cinco nove cinco zero
Que osmoticamente
Também bombou com incalculável irritância em decibéis
Os tímpanos do nosso comprador
E futuro eleitor
Engraçado, a priori
Aquilo pra mim soou
meio que sarcasticamente
como consolo
Afinal não era só eu que estava sendo irritantemente adestrado
Mas depois fiquei a me indagar
Até que ponto o resultado nas urnas
são fruto de decisão política bem pensada
ou mero ruído de musiquinha animada.

P.S.: Modifiquei o número do jingle para não parecer que estou fazendo propaganda eleitoral.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cansado

Desse monte de gente de merda que se acha rei!
Desse monte de gente bosta que acha que tem nas costas a capa de super-sei!

Quer saber?
Cansei!

Até tentei aprender
Até tentei prender
Eu juro que me esforcei

Mas acho que me melei

Andei e caguei!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Inequação

Resolva a (in)equação abaixo:

A / B = (C + D + E) / F


A = Nº de barracas demolidas na orla de Salvador

B= Nº de dias de demolição

C= Anos de trabalho suado desperdiçados

D = Gotas de suor pingadas debaixo de sol quente pra sustentar a família

E = Nº de comerciantes desempregados

F = Por quanto tempo, seu prefeito?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cúmplice

Desejo
Com toda intensidade
Com a mais pura verdade

Com todos os meus medos
Desejo
Todos os teus medos

Com toda a intensidade
Com a mais pura verdade
Desejo

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Incompreensão

Tu que não me compreendes! Vamos romper relação!

Tudo bem, tanto faz. Pra mim também já deu!
Passei a vida inteira te compreendendo!
Você que nunca me compreendeu!

Tomaram fôlego. E após tanta incompreensão
Tomaram decisão certeira
Suicida ilusão da banheira

Seguiram direções opostas.
Rompendo assim pelas costas
Cordão umbilical da razão

E aquele que certo estiver
Que atire a primeira pedra.
Lascada. Paleolítica.
Com a força orgulhosa da mão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A bem da verdade..

Nada como um bom diálogo
Mesmo que quase um monólogo.

Que seja...
Mas que seja de verdades nuas
Ainda que não tão cruas.

Confesso que...
Quase sempre
Passo um tempo a ensaiar
Tal como carne a maturar
E só com palavras escolhidas
me sujeito a monologar

É que o discurso internamente carregado
costuma sair ponderado
diria até tacitamente lapidado
Perdendo as exclamações.

É que a verdade por si já verbaliza
Todos os pontos e virgulas e interrogações

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

engarrafado

Trânsito.
São 18 horas.
Neste interminável ora
Ora vai ora vem
movimentar de mãos
Marcho a 20 por hora
Em primeira e segunda.

Inunda.
Cai o mundo la fora.
E as gotas no céu de vidro embora
percutam seu som vibrante
Em polirrítmo constante
Num intervalo intederminado

Vibro em estado distante
Meio assim, dissonante.
Transito no meu horizonte
E tal como na minha fronte
Me sinto assim
Engarrafado.

domingo, 15 de agosto de 2010

extrato

Debitos...
Dívidas...
Contas a pagar...

Somo minhas dores
Subtraio dos amores
Resulto calcular:

Qua lá no fim das contas
O lápis desaponta
Ao peito a me furar

Aplico meu dinheiro
Invisto no meu zelo
Desejo de “rendar”

Talvez no fim das contas
Bom crédito desconta
Esse banco há de pagar!

É assim que me endivido
Tal qual credor falido
Sempre a cobrar

Da vida inexata
Que essa conta sensata
Não deve calotar!

picadura

Minha alma é assim
Escorpiana a se curar.
Tem um quê geminiano
Um duplo equilibrar.

Segue contra-corrente
Caudalosa e pungente
Brinca belicosamene
Faz questão de penetrar.

Armadura carapaça
Superficie tão sem graça
Trivial banalizar.

Tão guerreira e bravamente
Curva-se como serpente
Espreita-se meio tendente
Como bote a preparar.

Picadura consciente
O veneno doce e quente
Vem minhalma a instilar.

E em verdade corroente
Queimando em aguardente
Aguarda novamente
O próximo picar.

Picadura inconsciente
De veneno doce e quente
Reage a despicar.

Rastejando lentamente
Abriga-se indiferente
Soldado incandescente
No seu quartel militar.

Armadura carapaça
Superficie tão “espassa”
Duro penetrar.

Fecha o elo da corrente.
E segue assim continuamente
Essa vida a encadear.

Minha alma é assim
Tão antidotamente
Escorpiana a se curar.